13 de out. de 2011

Elephant (1989), de Alan Clarke



Muitas vezes, elogia-se um filme por ele "passar voando". Não é incomum, por exemplo,ao término da exibição de um filme, uma pessoa, em tom elogioso, afirmar algo como "ah, nem senti o tempo passar!". A questão é: por que um filme de qualidade teria que desligar-nos do tempo? Por que não o contrário? Elephant, média-metragem de Alan Clarke, faz o contrário. Sua estrutura é rídiga: dividi-se em espécies de "episódios", sempre apresentando a mesma situação; há elementos fixos: a abundância de planos-sequencia, o realce de certos sons (os passos, o barulho do trânsito, e os tiros). Não é o filme do qual diríamos "nem senti o tempo passar", mas aquele do "pensava que não ia acabar nunca". Isto, aqui, não pode ser visto em sentido negativo. Se é dito, em geral, para aqueles filmes em que nos transformam em pacientes crônicos de déficit de atenção, o caso de Elephant, por outro lado é especial: está ligado ao fato de ser uma obra que toca diretamente em emoções desagradáveis, pela situação a que nos expõe incessantemente, assassinatos "aleatórios" e brutais. O que nos choca não apenas por serem atos que causam, já naturalmente, sensações extremas, mas porque Alan Calrke força o espectador a um confronto direto com o objeto observado: as ações da narrativa não apresentam contexto algum, logo não se pode vir a delinear uma trama, muito menos seus "personagens" (entre aspas pois não são envoltos por qualquer arco dramático - não possuem nomes, ou histórias). Não há pontos de referência em Elephant. Comete a covardia de deixar o espectador sem algo para se agarrar, em contato bruto e direto com a imagem. Logo de início, a impressão que se dá é que este média de 40 minutos se estenderá em uma espécie de loop infiinito, daí a sensação de "não acabar nunca". Em Elephant, não há começo, meio ou fim; é, na verdade, uma sucessão de "variações sobre um mesmo tema". Variações que, sim, existem: se há os elementos fixos já ressaltados, de "episódio" para "episódio", há mudanças que, se observadas, podem desestruturar o olhar perante o material filmado, que, num filme como Elephant, é fácil de se se tornar viciado, devido a uma estrutura que segue um fluxo aparentemente imutável. Falo de momentos como aqueles em que a câmera acompanha dois rapazes,que, seguindo a lógica das sequencias anteriores, seriam os assassinos, mas revelam-se vítimas; ou um outro, em que seguimos uma pessoa em um estacionamento, abruptamente abandonada do foco, com a ação depois transcorendo com outros dois personagens que até então não haviam aparecido. Um soco no estômago.

O filme está disponível no youtube em cinco partes. A primeira:

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