30 de dez. de 2011

"Documentário" (1966), de Rogério Sganzerla



Rogério Sganzerla foi um dos maiores cineastas brasileiros (e, pessoalmente, o meu favorito), idealizando o chamado "Cinema Marginal", juntamente com outros nomes de prestígio, como Andrea Tonacci (diretor do espectaular "Bang Bang") e Ozualdo Candeias (de "A Margem"). Realizador de obras como "O Bandido da Luz Vermelha", "Copacabana Mon Amour" e "Sem Essa, Aranha", Sganzerla infelizmente faleceu precocemente, em 2004, aos 58 anos, vítima de um tumor no cérebro. O cinema de Sganzerla sempre privilegiou uma espécie de estética da inquietude do subdesenvolvimento, de cunho iconoclasta e à frente de seu tempo. Ao mesmo tempo realizava ferrenhas críticas às mazelas sociais tupiniquins, exaltava uma espécie de retorno ao "espírito" brasileiro, mas um retorno antropofágico, nos moldes de um Oswald de Andrade (talvez a maior inspiração de Sganzerla, juntamente com Orson Welles). Era (na verdade, "é", pois, se o criador se vai, a arte fica) um cinema da sujeira e do caos urbano, da "boca do lixo", mas também da extrema experimentação com a linguagem cinematográfica. Um diretor que não só possuia o talento de fazer filmes, como também o desejo.

Falando um pouco mais do curta, "Documentário" foi seu primeiro trabalho atrás das câmeras, realizado em 1966, quando tinha apenas 20 anos (seu primeiro longa, "O Bandido...", seria realizado apenas dois anos depois, aos 22 - um garoto-prodígio, que veio a se tornar mestre). Narra, em 10 minutos, a tarde de dois jovens ociosos no centro de São Paulo, tentando decidir o que fazer ("Precisamos salvar a tarde. Mulher não dá pra pegar, beber cê não tem dinheiro"); falam sobre cinema, fumam, e a trilha sonora de barulho dos carros, que permeiam o cenário. Fica a promessa: "da próxima vez vou fazer tudo diferente".

Está disponível no you tube:

19 de dez. de 2011

O Artista, de Michel Hazanavicius



Um dos filmes mais elogiado da temporada, O Artista vem aparecendo com sucesso nas maiores premiações do momento e em listas de melhores do ano, tendo sido vencedor, por exemplo, do prêmio de Melhor Ator (para o extremamente elogiado Jean Dujardin) no Festival de Cannes. O elenco e o diretor (o francês Michel Hazanavicius) são, em sua maioria, desconhecidos, mas é um filme com uma proposta ousada: fazer um filme mudo (ou quase isso - não sei se o filme realmente não possui diálogos, mas certamente são raríssimos) em pleno século XXI (contando ainda com Preto & Branco e formato de tela 1.33, típico da época). Conta uma história que se passa em 1927, ou seja, período de transição do cinema mudo para o cinema falado, narrando as preocupações de um astro da época e seus envolvimentos amorosos. Certamente é algo que deve ser no mínimo muito curioso. Deve aportar nos cinemas brasileiros no começo do ano que em breve chegará.

Veja o trailer: http://www.youtube.com/watch?v=OK7pfLlsUQM

10 de dez. de 2011

Um Pouco Sobre Ryan Larkin



Ryan Larkin tem uma história curiosa: foi "pupilo" de Norman McLaren (curta-metragista experimental e um dos grandes nomes da animação mundial) na National Film Board of Canada, realizando seu primeiro curta em 1965, o ótimo Syrinx (sobre o qual falarei em parágrafos posteriores), quando tinha apenas 22 anos idade, concorrendo ao Oscar quatro anos mais tarde pela primeira vez, com o genial Walking. Em 72, fez inda mais um filme Street Musique, e que foi sua despedida. A partir daí, a carreira de Larkin entrou por água abaixo: largou a NFBC e rendeu-se ao vício do álcool e da cocaína, chegando até mesmo a viver como um sem-teto nas ruas de Montreal.



Em 2004, o outrora promissor animador foi resgatado, se tornando material para um curta-metragem dirigido por Chris Landreth que ganhou bastante repercursão ao vencer o Oscar de Melhor Animação. Todos aqui se apresentam como personagens desfigurados, fazendo quase um retrato da mente degenerada de Larkin. Ao invés de adotar um tom sentimentalista ou sensacionalista, Landreth opta por um caminho menos convencional e previsível (algo que me parece ser típico do cineasta, pelo que pude ver em seus trabalhos anteriores) para se fazer uma biografia, sendo uma obra extremamente criativa e visualmente forte, mas nunca renegando o conteúdo. Um filme que certamente receberia o selo de aprovação por parte de Ryan Larkin.

Quanto à filmografia de Larkin, pude conferir dois de seus curtas, como afirmei no primeiro parágrafo. O primeiro deles, Syrinx, tem seu ponto de partida na mitologia grega; Syrinx representa uma ninfa conhecida pela sua castidade, desejada pelo Deus Grego Pã, e todo o restante da história podemos acompanhar através de imagens inicialmente abstratas, mas que após algum tempo acabam por ganhar formas, em uma atmosfera onírica reforçada pela música de Claude Debussy. O outro, Walking, tem uma idéia simples, mas uma execução que impressiona. Na época, Larkin foi taxado de o "George Harrison ou o Frank Zappa da Animação", o que não me surpreende tanto, já que Walking carrega bastante a psicodelia do período, realçada pela ótima trilha sonora, mostrando os corpos dos personagens em constantes transformações (assim como a própria época em que foi feito), seja em tamanho ou em cores (o próprio "protagonista" tem rosto e corpo indefinidos, em constante mudança).

"Syrinx" (1966) http://www.youtube.com/watch?v=s-rTuq6O9SM

"Walking" (1968) http://www.youtube.com/watch?v=KpE_ETl0S58

5 de dez. de 2011

"O Homem que Não Amava as Mulheres", de David Fincher



Este é o novo trabalho do cineasta David Fincher, mais conhecido pela autoria de filmes como Clube da Luta e A Rede Social. Baseado num dos livros que compõe a trilogia "Millenium", do escritor sueco Stieg Larsson, "The Girl with teh Dragon Tattoo" (que inclusive já recebeu uma versão cinematográfica, também sueca, chamada "O Homem que Não Amava as Mulheres", mas bom ressaltar que o filme de Fincher é uma nova adaptação, não uma refilmagem), e conta a história do súbito desaparecimento de uma herdeira, nunca resolvido pelas autoridades investigativas, mas chama a atenção de um jornalista (vivido por Daniel Craig, o atual James Bond), que resolve investigar a situação por conta própria.

Fincher já se arriscou no passado com o cinema de gênero (no caso, o filme policial) e isso rendeu o brilhante "Zodíaco". É de se esperar que "O Homem que Não Amava as Mulheres" esteja no mesmo nível. O excelente trailer pode ser visto logo abaixo (e, na trilha, conta com uma versão muito boa pra "Immigrant Song", do Led Zeppelin, feita pelo Trent Reznor - o homem por trás do projeto Nine Inch Nails, e que realizou a ótima trilha do A Rede Social - e a Karen O, vocalista da banda de indie rock Yeah Yeah Yeahs) e o filme tem previsão de estreia para o fim de janeiro de 2012, no Brasil.